23 de dezembro de 2009

19 de dezembro de 2009

O Palhaço


O Palhaço

O palhaço compra empresas de alta tecnologia em Puerto Rico por milhões, vende-as em Marrocos por uma caixa de robalos e fica com o troco. E diz que não fez nada. O palhaço compra acções não cotadas e num ano consegue que rendam 147,5 por cento. E acha bem.

O palhaço escuta as conversas dos outros e diz que está a ser escutado. O palhaço é um mentiroso. O palhaço quer sempre maiorias. Absolutas. O palhaço é absoluto. O palhaço é quem nos faz abster. Ou votar em branco. Ou escrever no boletim de voto que não gostamos de palhaços. O palhaço coloca notícias nos jornais. O palhaço torna-nos descrentes. Um palhaço é igual a outro palhaço. E a outro. E são iguais entre si. O palhaço mete medo. Porque está em todo o lado. E ataca sempre que pode. E ataca sempre que o mandam. Sempre às escondidas. Seja a dar pontapés nas costas de agricultores de milho transgénico seja a desviar as atenções para os ruídos de fundo. Seja a instaurar processos. Seja a arquivar processos. Porque o palhaço é só ruído de fundo. Pagam-lhe para ser isso com fundos públicos. E ele vende-se por isso. Por qualquer preço. O palhaço é cobarde. É um cobarde impiedoso. É sempre desalmado quando espuma ofensas ou quando tapa a cara e ataca agricultores. Depois diz que não fez nada. Ou pede desculpa. O palhaço não tem vergonha. O palhaço está em comissões que tiram conclusões. Depois diz que não concluiu. E esconde-se atrás dos outros vociferando insultos. O palhaço porta-se como um labrego no Parlamento, como um boçal nos conselhos de administração e é grosseiro nas entrevistas. O palhaço está nas escolas a ensinar palhaçadas. E nos tribunais. Também. O palhaço não tem género. Por isso, para ele, o género não conta. Tem o género que o mandam ter. Ou que lhe convém. Por isso pode casar com qualquer género. E fingir que tem género. Ou que não o tem. O palhaço faz mal orçamentos. E depois rectifica-os. E diz que não dá dinheiro para desvarios. E depois dá. Porque o mandaram dar. E o palhaço cumpre. E o palhaço nacionaliza bancos e fica com o dinheiro dos depositantes. Mas deixa depositantes na rua. Sem dinheiro. A fazerem figura de palhaços pobres. O palhaço rouba. Dinheiro público. E quando se vê que roubou, quer que se diga que não roubou. Quer que se finja que não se viu nada.

Depois diz que quem viu o insulta. Porque viu o que não devia ver.

O palhaço é ruído de fundo que há-de acabar como todo o mal. Mas antes ainda vai viabilizar orçamentos e centros comerciais em cima de reservas da natureza, ocupar bancos e construir comboios que ninguém quer. Vai destruir estádios que construiu e que afinal ninguém queria. E vai fazer muito barulho com as suas pandeiretas digitais saracoteando-se em palhaçadas por comissões parlamentares, comarcas, ordens, jornais, gabinetes e presidências, conselhos e igrejas, escolas e asilos, roubando e violando porque acha que o pode fazer. Porque acha que é regimental e normal agredir violar e roubar.

E com isto o palhaço tem vindo a crescer e a ocupar espaço e a perder cada vez mais vergonha. O palhaço é inimputável. Porque não lhe tem acontecido nada desde que conseguiu uma passagem administrativa ou aprendeu o inglês dos técnicos e se tornou político. Este é o país do palhaço. Nós é que estamos a mais. E continuaremos a mais enquanto o deixarmos cá estar. A escolha é simples.

Ou nós, ou o palhaço.

(Mario Crespo)

31 de outubro de 2009

23 de outubro de 2009

23 Out 2009 - Autarquicas - Espinho


23 Out 2009 - Autarquicas/Espinho


O Tribunal Constitucional (TC) confirmou hoje o resultado das eleiçoes autarquicas em Espinho, indeferindo o pedido do PS local que pedia a nulidade do acto eleitoral, depois de ter sido derrotado pelo PSD por 99 votos.

 

11 Out 2009 - Eleiçoes Autarquicas


O Povo de Espinho "castigou" Jose Mota

Venha a auditoria e as melhorias que Espinho precisa ha anos!!!
Nao é só inauguraçoes em vespera de eleiçoes (a Biblioteca, sem livros, uma vergonha!!!)
É preciso que Espinho volte rapidamente a ser a Rainha da Costa Verde como durante tantos anos mereceu o titulo.
É necessario (re)ver o negocio dos parquimetros - Espinho foi VENDIDO a uma empresa durante pelo menos 20 anos sem hipotese de contestaçao.
É preciso continuar a fazer passeios com os nossos velhinhos mais necessitados, que de outra forma nunca iriam passear (sem aproveitar esses passeios para tratar de assuntos particularissimos, como toda a gente sabe...)
É necessario tambem que se arranje uma sede para a nossa Banda de Musica, para que os musicos deixem de ter de ir ensaiar a Gaia (uma vergonha de que se pode realmente orgulhar o sr. Jose Mota)
Nao podemos esquecer o PASSADO do sr. Jose Mota pois por esse mesmo passado Espinho parou no tempo PRESENTE e se por acaso ele tivesse ganho, nao teriamos um FUTURO risonho pela frente.
Viva Espinho e a sua gente!!!




Rui Torres, presidente reeleito da Junta de Espinho, cumpriu uma promessa antiga, a de que mergulharia no chafariz se Jose Mota perdesse a Camara. Foi, por isso, um autarca encharcado que acompanhou os novos vereadores municipais na "invasao" pacifica dos Paços do Concelho.


13 de outubro de 2009

13 Outubro 2009

Parabens Nany

24 de setembro de 2009

Hoje o meu Tio ABILIO faz 100 anos!!!



Hoje o meu Tio ABILIO faz 100 anos!!!
Lembro-me das minhas férias de infância passadas na CASA GRANDE DE CIMO DE VILA, em Cesar, quando eu ia para a "FÁBRICA DOS CLAUDINOS" que tinha sido do meu Avô CLAUDINO e agora era dos meus tios, e que ficava no ré-do-chão da casa.
Como eu gostava de ir ver trabalhar o meu Tio Abilio, com a sua mão certinha, pintar os gasómetros, regadores, jarros, etc, tudo de zinco, tudo tão delicadamente enfeitado por ele!
Eu apreciava estar bem no meio dos trabalhadores e dos meus tios Américo e António e ver como eles faziam essas peças e tambem as banheiras, dentro das quais me metia muitas vezes nas minhas brincadeiras.
Foi nessa casa que tive o sarampo, que conheci pela primeira vez uma Árvore de Natal com luzinhas verdadeiras de piscar, em forma de lanterninhas, que vi cinema pela primeira vez, que conheci as lindissimas histórias (verdadeiras e inventadas) que a minha avó Rosa contava, e que ainda hoje lembro com saudade.
Uma dessas histórias refere-se ao meu Tio Abilio: ele era muito "namoradeiro" e saía todas as noites para se encontrar com as inúmeras namoradas que tinha, mas sem o pai saber, pois nesse tempo havia horas para recolher mesmo para os rapazes. Então ele arranjou maneira de sair sem ninguem saber, ou antes, só a minha avó sabia.
Como havia um alçapao em casa, que dava para a fábrica, ele fazia de conta que ia para a cama e depois descia para o rés-do-chão e saía para os encontros. A minha avó deixava o fecho do alçapão aberto, e quando ele chegava, era só subir as escadinhas, fechar o alçapão e deitar-se.
O pior foi uma vez que ela se esqueceu e deixou um saco em cima do tal alçapão e ele não conseguiu abri-lo e teve de dormir na fábrica. No dia seguinte foi uma risota das grandes quando o pessoal chegou para trabalhar e encontrou o meu tio Abilio a dormir dentro de uma banheira cheio de frio pois estávamos no Inverno e em Cesár é um gelo nessa época.




Parabens Tio ABILIO!!!



24 SET 1909 - ABILIO TAVARES DE AZEVEDO - 24 SET 2009



5 de Junho de 1935Em Assembleia Geral Extraordinária reúnem os columbófilos desta Terra aprovando, por unanimidade, a criação duma Sociedade Columbófila:
Sociedade Columbófila de Cesar
Esta Assembleia Geral foi presidida por Nelson Portal Jorge, secretariada por Aldemar Portal Jorge e realizada em casa de Abílio Tavares de Azevedo. Com todas as dificuldades inerentes à época a columbofilia em Cesar atingiu altos níveis de competição. A disputa de diferentes campeonatos por várias dezenas de columbófilos projectou o nome desta colectividade ao mais alto nível.
http://www.columbofilia.net/cesar/main09.htm


Co-fundador com mais 3 amigos, da columbofilia em Cesar, no tempo das corridas pedestres com os comprovativos dos pombos, em socos de madeira ou descalços.
Caçador desportivo (ultimamente de raposas, com laço)
Pescador desportivo.

5 de setembro de 2009

"A INÚTIL"(professora)

"A INÚTIL"(professora) escreveu a Miguel Sousa Tavares...

Sobre os Professores

É do conhecimento público que o senhor Miguel de Sousa Tavares considerou os professores "os inúteis mais bem pagos deste país." Espantar-me-ia uma afirmação tão generalista e imoral, não conhecesse já outras afirmações que não diferem muito desta, quer na forma, quer na índole. Não lhe parece que há inúteis, que fazem coisas inúteis e escrevem coisas inúteis, que são pagos a peso de ouro? Não lhe parece que deveria ter dirigido as suas aberrações a gente que, neste deprimente país, tem mais do que uma sinecura e assim enche os bolsos? Não será esse o seu caso? O que escreveu é um atentado à cultura portuguesa, à educação e aos seus intervenientes, alunos e professores. Alunos e professores de ontem e de hoje, porque eu já fui aluna, logo de 'inúteis', como o senhor também terá sido. Ou pensa hoje de forma diferente para estar de acordo com o sistema?

O senhor tem filhos? - a minha ignorância a este respeito deve-se ao facto de não ser muito dada a ler revistas cor-de-rosa. Se os tem, e se estudam, teve, por acaso, a frontalidade de encarar os seus professores e dizer-lhes que "são os inúteis mais bem pagos do país."? Não me parece... Estudam os seus filhos em escolas públicas ou privadas? É que a coisa muda de figura! Há escolas privadas onde se pagam substancialmente as notas dos alunos, que os professores "inúteis" são obrigados a atribuir. A alarvidade que escreveu, além de ser insultuosa, revela muita ignorância em relação à educação e ao ensino. E, quem é ignorante, não deve julgar sem conhecimento de causa. Sei que é escritor, porém nunca li qualquer livro seu, por isso não emito julgamentos sobre aquilo que desconheço. Entende ou quer que a professora explique de novo?

Sou professora de Português com imenso prazer. Oxalá nunca nenhuma das suas obras venha a integrar os programas da disciplina, pois acredito que nenhum dos "inúteis" a que se referiu a leccionasse com prazer. Com prazer e paixão tenho leccionado, ao longo dos meus vinte e sete anos de serviço, a obra de sua mãe, Sophia de Mello Breyner Andersen, que reverencio. O senhor é a prova inequívoca que nem sempre uma sã e bela árvore dá são e belo fruto. Tenho dificuldade em interiorizar que tenha sido ela quem o ensinou a escrever. A sua ilustre mãe era uma humanista convicta. Que pena não ter interiorizado essa lição! A lição do humanismo que não julga sem provas! Já visitou, por acaso, alguma escola pública? Já se deu ao trabalho de ler, com atenção, o documento sobre a avaliação dos professores? Não, claro que não. É mais cómodo fazer afirmações bombásticas, que agitem, no mau sentido, a opinião pública, para assim se auto-publicitar.

Sei que, num jornal desportivo, escreve, de vez em quando, umas crónicas e que defende muito bem o seu clube. Alguma vez lhe ocorreu, quando o seu clube perde, com clubes da terceira divisão, escrever que "os jogadores de futebol são os inúteis mais bem pagos do país."? Alguma vez lhe ocorreu escrever que há dirigentes desportivos que "são os inúteis mais protegidos do país"? Presumo que não, e não tenho qualquer dúvida de que deve entender mais de futebol do que de Educação. Alguma vez lhe ocorreu escrever que os advogados "são os inúteis mais bem pagos do país"? Ou os políticos? Não, acredito que não, embora também não tenha dúvidas de que deve estar mais familiarizado com essas áreas. Não tenho nada contra os jogadores de futebol, nada contra os dirigentes desportivos, nada contra os advogados.
Porque não são eles que me impedem de exercer, com dignidade, a minha profissão. Tenho sim contra os políticos arrogantes, prepotentes, desumanos e inúteis, que querem fazer da educação o caixote do (falso) sucesso para posterior envio para a Europa e para o mundo. Tenho contra pseudo-jornalistas, como o senhor, que são, juntamente com os políticos, "os inúteis mais bem pagos do país", que se arvoram em salvadores da pátria, quando o que lhes interessa é o seu próprio umbigo.

Assim sendo, Sr... Miguel de Sousa Tavares, informe-se, que a informaçãozinha é bem necessária antes de "escrevinhar" alarvices sobre quem dá a este país, além de grandes lições nas aulas, a alunos que são a razão de ser do professor, lições de democracia ao país. Mas o senhor não entende! Para si, democracia deve ser estar do lado de quem convém.

Por isso, não posso deixar de lhe transmitir uma mensagem com que termina um texto da sua sábia mãe: "Perdoai-lhes, Senhor porque eles sabem o que fazem."

Ana Maria Gomes
Escola Secundária de Barcelos

2 de setembro de 2009

2 set 2009

Presentinhos que me foram oferecidos por amigos blogueiros,do Orkut e dos grupinhos "Castelo dos Sonhos" e "Planeta Trocas"

































a TODOS MUITO OBRIGADA

20 de maio de 2009

25 de abril de 2009

Tarrafal

25 Abril 1974 - 25 Abril 2009

Tarrafal - Campo de Morte Lenta

Palavras de Joao Faria Borda (ja falecido), um homem que passou dezasseis anos e tres meses no Campo de Concentraçao que foi uma das mais sinistras criaçoes do regime a que a Revoluçao de 25 de Abril pôs termo.

"O campo de concentraçao era um rectangulo (cerca de 250m por 180) situado num dos sitios mais insalubres do arquipelago de Cabo Verde. Como alojamento existiam umas barracas de lona onde eram metidos cerca de 12 presos em cada uma. As casas de banho nao existiam. Havia apenas uns sanitarios – toscos muros de tijolo com uns buracos no chao e umas latas de gasolina para as necessidades. Como cozinha existia um telheiro com uns muros por onde a poeira entrava aos montes. Dois indígenas faziam a comida. A alimentaçao era péssima – havia ocasiões em que era necessario pôr bolas de algodao no nariz pois o cheiro da comida impedia que ela entrasse no estomago. Nao havia agua potável. Só existia água num poço a cerca de oitocentos metros do campo, água salobra que os presos transportavam em latas de gasolina. Mesmo assim era má e em pequena quantidade, nao chegando para a higiene. Tomava-se banho com um unico litro de agua despejada de uma lata onde eram feitos uns buracos para o efeito." "O primeiro director do Tarrafal foi Manuel Martins dos Reis, capitao gatuno e paranoico, vindo da Fortaleza de Angra do Heroísmo. Este director "entretinha-se" a roubar as coisas que os familiares dos presos, com sacrifício, mandavam, desculpando-se que tudo aquilo era enviado pelo Socorro da Marinha Internacional. Chegou mesmo a montar uma pseudo cantina onde vendia as coisas roubadas. Mal desembarcámos começámos imediatamente a trabalhar. Transportávamos pedras, sob vigilancia constante dos guardas. Em Cabo Verde, regiao de clima variavel, calhou chover bastante nesses anos. A lona das barracas apodreceu de tal maneira que lá dentro chovia como na rua e de manhã acordávamos com a cara negra da poeira que se pegava à humidade que sobre nós caía. As águas acumuladas formavam pantanos onde se desenvolviam mosquitos transmissores do paludismo. A saude de todos nós, presos, arruinava-se. Caíamos atacados da doença chamada biliose. Sem fornecimento de medicamentos e com um médico que era um patife da pior espécie, em poucos dias morreram sete camaradas. Em cerca de uma média de 200 presos era vulgar, em certas alturas, apenas dez andarem a pé." "Os escandalos da actuaçao do primeiro director levaram à demissao deste. Foi substituído por Joao da Silva, acompanhado pelo fascista Seixas. Estávamos em 1938/39. A guerra civil espanhola terminava com a vitória do fascismo. O ditador português Salazar tinha contribuído, apoiando com o envio de géneros alimentícios e de homens, os quais ficaram conhecidos pelos Viriatos. Hitler tinha subido ao poder em 1933. Na Itália existia Mussolini. A situação no campo do Tarrafal, reflexo da situação política internacional caracterizada pela ascensão do fascismo, agrava-se terrivelmente. João da Silva dizia frequentemente: "Quem está aqui é para morrer!" Com este director começou a funcionar sistematicamente a célebre tortura conhecida por "frigideira". Todos os dias eram para lá atirados presos e eu também por lá passei algumas vezes."



"O Tarrafal é uma prisão política que temos de pôr ao lado de Aljube, Peniche, Caxias, Angra do Heroísmo. Não foram só os presos do Tarrafal que sofreram mas sim milhares de antifascistas vítimas das prisões por onde passaram. Mas o Tarrafal tinha um aspecto mais duro e violento: o isolamento. Os presos estavam meses e meses sem receber correspondência. Devido a ter participado numa tentativa de fuga colectiva em 2 de Agosto de 1937, a qual falhou por razões imprevisíveis, fui castigado em seis meses sem correspondência. A minha mãe morreu em Julho mas só vim a sabê-lo em Novembro, passados portanto mais de quatro meses." "Todos os directores do Tarrafal, embora com características diferentes, tinham algo em comum: todos eram carcereiros e agentes do fascismo. Conheciam as técnicas nazis e usavam-nas. João da Silva usava uma técnica frequentemente: fazer promessas junto dos presos menos preparados, enquanto paralelamente redobrava a violência junto dos mais firmes. Todos os directores do Tarrafal procuraram reduzir, com mais ou menos intensidade consoante a situação política nacional e internacional, a capacidade de luta dos presos. Nenhum deles estava interessado em que estes fossem restituídos à liberdade. Todos pretendiam a aniquilação física e política dos homens que torturavam. Mas não o conseguiram."



"A "frigideira" era um paralelepípedo dividido ao meio, com proporções para conter dois homens. Mas, em caso de grandes castigos, chegavam a meter lá dez. Como respiradouros existia apenas uma fresta em cima e cinco buraquinhos do tamanho da ponta de um dedo na porta de ferros. Aquecendo extraordinariamente durante as horas do calor, a "frigideira" arrefecia bruscamente com a cacimba, à noite. Descalços e apenas com o fato de caqui, os presos suavam abundantemente durante o dia e tremiam de frio durante a noite. A alimentação, nessas alturas de castigo, piorava: em dias alternados os presos comiam pão e água ou um caldo quente onde só raramente bailavam alguns grãos de arroz. Quando os presos saíam, enfraquecidos, da "frigideira" eram atirados para o trabalho mais violento. Entre esses ficou célebre o trabalho a que o fascista Seixas apelidou de "brigada brava", pois excedia em muito a própria violência do trabalho normal. Não era permitido beber água ou urinar senão com autorização dos guardas. A brigada brava" começou com dezenas de presos mas terminou apenas com dois: eu e António Guerra da greve da Marinha Grande, em 18 de Janeiro de 1934. Para mim este trabalho era um choque não só físico como mental, de tal modo que não conseguia dormir durante a noite, obcecado com a ideia de que no outro dia tinha de voltar ao mesmo. Quando, negros e encharcados, regressávamos ao campo, os restantes camaradas, solidários, ajudávam-nos em tudo o que o regulamento permitia: lavavam- nos a roupa, guardavam para nós a melhor comida e animavam-nos moralmente."



Quem foi Joao Faria Borda

Joao Faria Borda, natural de Alcobaça, filho de um campones, nasceu a 18 de Novembro de 1912. Em 1932, então com 20 anos de idade, assentou praça na Armada, onde desenvolveu diversa actividade política. Como dirigente da ORA – Organização dos Revolucionários da Armada – participou, juntamente com outros anti-fascistas, na revolta dos navios de guerra "Bartolomeu Dias", "Afonso de Albuquerque" e "Dão", em Setembro de 1936, naquela que ficou conhecida como "A Revolta dos Marinheiros". Em consequencia dessa participaçao, depois de julgado em tribunal militar especial para crimes de natureza política e porque no tribunal assumiu a responsabilidade pela acção revolucionária praticada, foi condenado a vinte anos de prisão. Esteve uns dias na Penitenciária e foi, de seguida, enviado para o Tarrafal (tinha 23 anos), onde chegou a 29 de Outubro de 1936, com outros presos, entre eles nomes como Bento Gonçalves, secretário do Partido Comunista, Mário Castelhano, anarquista, Alfredo Caldeira, do Comité Central do PCP, e tantos outros. Faria Borda permaneceu dezasseis anos e três meses no campo de concentração. Depois de ter passado ainda mais um ano na cadeia de Peniche foi restituído à liberdade. Tinha então 41 anos de idade! Voltou ainda a ser preso em 1959/60 por actividade cooperativa.

Faleceu no Hospital Militar, em 1988 com 76 anos

(Tive a honra de o conhecer pessoalmente)

13 de abril de 2009

O sono do Tiago




O SONO DO TIAGO

O Tiago dorme... (Ó Maria,
Diz àquela cotovia
Que fale mais devagar:
Não vá o Tiago acordar...)

Tem só um palmo de altura
E nem meio de largura:
Para o amigo orangotango
O Tiago seria... um morango!
Podia engoli-lo um leão
Quando nasce! As pombas são
Um poucochinho maiores...
Mas os astros são menores!

O Tiago dorme... Que regalo!
Deixá-lo dormir, deixá-lo!
Calai-vos, águas do moinho!
Ó Mar! fala mais baixinho...
E tu, Mãe! e tu, Maria!
Pede àquele cotovia
Que fale mais devagar:
Não vá o Tiago acordar...

O Tiago dorme, o Inocente!
Dorme, dorme eternamente,
Teu calmo sono profundo!
Não acordes para o Mundo,
Pode levar-te a maré:
Tu mal sabes o que isto é...

Ó Mãe! canta-lhe a canção,
Os versos do teu Irmão:
"Na vida que a Dor povoa,
Há só uma coisa boa,
Que é dormir, dormir, dormir...
Tudo vai sem se sentir."

Deixa-o dormir, até ser
Um velhinho... até morrer!

E tu vê-lo-ás crescendo
A teu lado (estou-o vendo
Tiago! que rapaz tão lindo!)
Mas sempre sempre dormindo...

Depois, um dia virá
Que (dormindo) passará
do berço, onde agora dorme,
Para outro, grande, enorme:
E as pombas que eram maiores
Que Tiago... ficarão menores!

Mas para isso, ó Maria!
Diz àquela cotovia
Que fale mais devagar:
Não vá o Tiago acordar...

E os anos irão passando.

Depois, já velhinho, quando
(Serás velhinha também)
Perder a cor que, hoje, tem,
Perder as cores vermelhas
E for cheinho de engelhas,
Morrerá sem o sentir,
Isto é, deixa de dormir:
Acorda e regressa ao seio
De Deus, que é d'onde ele veio...

Mas para isso, ó Maria!
Pede àquela cotovia
Que fale mais devagar:

Não vá o Tiago acordar...

adaptado de O SONO DO JOÃO
António Nobre
(De: "Só")

19 de março de 2009