10 de novembro de 2013

♥ Álvaro Cunhal - 10 Nov 1913 - 13 Jun 2005

*Álvaro Cunhal, o homem que recusou ser comum*
Cioso da sua privacidade, e do sentido de verdade, nunca foi homem de paredes de vidro (por herança dos anos de clandestinidade, propósitos de conveniencia politica ou traço de temperamento.), rejeitava o culto da personalidade, sempre recusou colocar uma fotografia sua em cartazes eleitorais, nao gostava de montras mediaticas, nao expunha as companheiras, nem a filha, nem os netos. Mantinha o seu quotidiano recatado. E, no entanto, quem lidava com ele de perto sempre se comove ao lembrar a preocupaçao carinhosa com os outros, que tanto contrastava com a imagem de homem duro: desdobrava-se em atenções, indagava da saúde, do bem-estar, da familia, dos filhos dos camaradas. Um veu de suposta aridez emocional que ocultava um homem cheio de afetos. Estudava certeiro as poucas entrevistas que concedia, sempre se recusou a autobiografar-se, e ate a desmentir os dados fantasiosos que, volta e meia, se insinuavam. E o que nao se sabia ao certo, a comunicaçao social sempre fez questao de realçar, alimentar especulações, insondaveis enigmas. Onde vivia, com quem vivia, que doença o atacava nos últimos anos. Mas ele proclamava a modestia, uma certa obscuridade, vivia na heteronimia (na politica, antes do 25 de Abril, foi Duarte, Daniel, António. e na literatura Manuel Tiago), mas ainda assim ou talvez muito por causa disto se foi criando o mito queCunhal sempre rejeitou. Recusando o culto, reforçou-o. A sua presença fascinava, hipnotizava, ate os guardas da prisao embatucavam quando com ele se cruzavam. Esta tendencia para o disfarce, o segredo, um registo de vida quase espartana, as regras estritas, muito para alem das necessarias, esta contumacia de guardador zeloso e meticuloso da sua vida privada, garantiram-lhe alguns voyeurismos intrometidos. Algumas biografias nao desejadas. Alguns equivocos e perplexidades. Conta-se que, uma vez, lhe organizaram uma festa de aniversario-surpresa, na Soeiro Pereira Gomes.
Alvaro Cunhal recusou-se a apagar as velas, fechou-se num gabinete, o bolo foi recambiado, foram-se desgostosas as camaradas.
A sua obstinaçao pela luta antifascista, desde muito jovem, a abnegada ligaçao ao partido, trouxeram-lhe, para alem da perseguiçao politica, da clandestinidade e do exilio, e das inúmeras separações daqueles que mais amava, algumas desavenças familiares vindo da alta burguesia, Alvaro (filiado no PCP aos 17 anos) nao era filho da classe operaria (o pai era o reputado advogado, republicano e laico Avelino Cunhal, tambem pintor e escritor, a mae católica ferverosa) mas, contavam amigos próximos, gostava de andar pela casa de fato de macaco para desespero materno.
Mercedes Cunhal perdeu tres filhos: um para a politica, dois para a tuberculose. Só 14 anos mais tarde nasceu a irma mais nova, Eugenia, primeira tradutora de Tchekov, em Portugal.
A convivencia com a mae tornou-se fragmentada, ao ritmo dos desaparecimentos politicos, clandestinidades, prisões, isolamentos e exilio. Morreria antes do 25 de Abril, sem jamais o rever. Cunhal saiu de casa com 20 anos, trocou o conforto da alta burguesia, das criadas fardadas, da comida na mesa, pelo regime duro e despojado, imposto aos militantes comunistas, durante a perseguiçao fascista. O homem que gostava de Rembrandt, de Rodin, renunciou ate à sua arte dizse que poderia ter ido muito mais longe, enquanto pintor e escritor por acreditar num dever patriótico e sentido revolucionario ate ao fim. No centenario da sua morte, o PCP organizou uma exposiçao com fotos e factos ineditos, no Terreiro do Paço, com uma comissao de homenagem que inclui os mais altos e dispares vultos, um congresso, uma fotobiografia, e um comicio de homenagem no Campo Pequeno no domingo, 10 de novembro.
*1 - 1937: A primeira prisao
Aos 23 anos, detido pela primeira vez, ja a sua posiçao ja estava bem firmada no PCP. Ingressou na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, em 1931 (na mesma data em que se filia no PCP).Designado, enquanto Daniel, lider das Juventudes Comunistas Portuguesas, vai a Moscovo em 1935. Às insurreições operarias que acontecem por todo o Pais, em particular na Marinha Grande (18 de janeiro de 1934) e à Revolta dos Marinheiros (8 de setembro de 1936), o regime de Salazar reage ferozmente. e criado o campo de concentraçao de Tarrafal, para onde e enviado Bento Gonçalves, o entao secretario-geral do PCP (sobrevivera apenas sete anos). Em Espanha, o jovem Cunhal participa, ao lado dos comunistas espanhóis, na luta contra a sublevaçao fascista. Apanhado numa cilada de um provocador infiltrado, e preso pela PVDE (predecessora da PIDE) e sujeito às mais barbaras sevicias: dois meses de incomunicabilidade, espancado a murro e com cavalo-marinho, obrigado a caminhar depois de feridas e inchadas as plantas dos pes. Perdeu os sentidos, levou cinco dias ate dar acordo de si. Em casa, com apenas 10 anos, a irma Eugenia ve a mae a lavar a roupa ensanguentada do irmao, enviada do Aljube. A mae dizia-lhe que eram bichos da cadeia que lhe mordiam. Enviado para Penamacor, na qualidade de "soldado correcio", entrou em greve da fome, por duas semanas, ate ser enviado para o hospital de Coimbra.
*2 - 1942: A reorganizaçao do PCP
Decapitadas as cúpulas do partido, e a Cunhal quem cabe segurar-lhe as redeas. Após nova prisao, da-se a celebre defesa da sua tese sobre o aborto (preparada e concluida na cadeia), que, apesar do arrojo do tema e de um dos arguentes ser Marcello Caetano, foi aprovada com 16 valores. Salazar, na sua falsa neutralidade, apoia Hitler e Mussolini à custa do agravamento das condições de vida dos portugueses. e o tempo das senhas de racionamento, das grandes fomes, da exploraçao dos trabalhadores e do desemprego, das brutais condições de empobrecimento e das grandes greves, tambem. Sao os tempos dos passeios doutrinarios, no Tejo, casas conspirativas flutuantes, com Soeiro Pereira Gomes, Alves Redol e Dias Lourenço.
Depois de solto e na clandestinidade, Alvaro (agora Duarte) assume a liderança partidaria. Com menos de 30 anos, tomava para si as maiores responsabilidades. A partir daqui, o partido torna-se em AC e DC (antes e depois de Cunhal): disciplina reforçada, mais regras, maior rigidez. e ele quem redige o opúsculo Se Fores Preso Camarada, com instruções para os interrogatórios, resistencia à tortura e para nao denunciar nunca.
*3 - Anos 40: A clandestinidade
Nunca se referindo, em particular, às condições em que viveu, Alvaro Cunhal foi deixando pistas, nos seus livros.
Nomeadamente em 5 Dias, 5 Noites (adaptado ao cinema, por Fonseca e Costa, em 1996), sobre a fuga a salto de um jovem citadino por uma fronteira nortenha e a estranha relaçao com o seu rural passador (interpretados por Paulo Pires e Vitor Norte). Mas e sobretudo no romance Ate Amanha, Camaradas (que depois da serie televisiva de Joaquim Leitao se estreara em sala, como filme, a 7 de novembro) que se recolhe alguns fragmentos da vida na clandestinidade destes "revolucionarios profissionais". O livro de Manuel Tiago mostra a fome, crianças de ventre dilatado, mulheres descarnadas, trabalhadores escolhidos como escravos, nas praças de jorna. Quanto aos clandestinos, como se nao lhes bastasse o perigo, a perseguiçao e a prisao sempre iminente, a sobrevivencia era dura, nao tendo, ainda por cima, acesso às senhas de racionamento e ao mercado negro. O livro elucida-nos sobre o quotidiano dos clandestinos: a monotonia das tarefas partidarias, os quilómetros calcorreados de bicicleta, a solidao, o constrangimento das mulheres, tantas vezes confinadas a meras guardias das casas clandestinas, os casais forçados que, sem se conhecerem, tinham de partilhar a cama e rotinas, o absurdo de certas regras conspirativas como ter de fazer a barba todos os dias ou nunca apanhar frutos das arvores.
*4 - 1949: A longa prisao
Aos 35 anos, Cunhal e apanhado na casa clandestina, no Luso, juntamente com Sofia Ferreira e Militao Ribeiro. O pai, Avelino, coloca um anúncio em código no jornal, para advertir o partido de que Duarte (o nome que entao usava) estava preso. Ja nao o torturaram nao valia a pena. Mas pensa-se, e este ainda foi um dado pouco explorado pelos historiadores, que a PIDE tinha a intençao de eliminar Cunhal, no momento. Se nao o fez, entao, tentou que soçobrasse por força de uma das mais inclementes provações carcerarias. Indicio disso sao as cartas com inventarios dos seus bens, agora reveladas na Fotobiografia das Edições Avante!, admitindo a hipótese de morrer.
Entre elas, um comovente pedido ao diretor da penitenciaria, solicitando apanhar um ramo de flores dos jardins da cadeia para serem entregues à mae aniversariante. Mantiveram--no oito anos incomunicavel, numa cela de dois por quatro metros, na Penitenciaria de Lisboa, sem papel sequer para tomar apontamentos e preparar a sua defesa em julgamento.
Militao Ribeiro sucumbiria, vitima das crueis condições prisionais: uma foto revela o seu corpo num estado de subnutriçao impressionante. Entretanto, Cunhal elabora a sua longa defesa, recorrendo a um metodo de memorizar e projetar mentalmente os tópicos, no lajedo da cela. A defesa terminaria assim: ". entao que se sentem os fascistas no banco dos reus, entao que se sentem no banco dos reus os atuais governantes da naçao e seu chefe Salazar." e perante o tribunal plenario que se declara "filho adotivo da classe operaria". Após o julgamento, atenuado o regime de privações, dedica-se, tenazmente, à pintura (sao desta epoca os famosos Desenhos de Prisao), traduz o Rei Lear, de Shakespeare, escreve Ate Amanha, Camaradas, e 5 Dias, 5 Noites e A Arte, o Artista e a Sociedade. O trabalho, o estudo, a arte tornam-se forma de resistencia. Entretanto, a figura de Alvaro Cunhal ganha contornos internacionais, Neruda dedica-lhe o poema A Lâmpada Marinha, Jorge Amado apela do outro lado do Atlântico, chovem pedidos de amnistia. Alvaro Cunhal torna-se uma personalidade maior. Porventura, maior ate que o próprio partido.
*5 - 1960: A grande evasao
A mais ousada fuga coletiva das prisões politicas portuguesas nao só constituiu um reforço das cúpulas do PCP (entre os dez fugitivos do forte de Peniche estavam alguns dos seus mais altos dirigentes), como dela resultou uma grande humilhaçao de Salazar. Alem de um enorme gaudio nas parangonas do Avante!. Nas barbas do regime, da inexpugnavel fortaleza, uma das mais bem guardadas prisões do fascismo (Cunhal tinha sido para ai transferido em 1956), graças a uma articulaçao metódica, aos pormenores estudados com a pericia de relojoeiro, conexões ca fora, cumplicidade de um guarda, la dentro, um carcereiro narcotizado e uma dose imensa de coragem, dez presos evadem-se. Nas celas vazias, ficou a tocar a Sinfonia Patetica, de Tchaikovsky. A aura de Cunhal cresceu ainda mais ate à sua dimensao lendaria. Tanto que, na descida, atraves de uma corda, pelas dezenas de metros das muralhas, Cunhal traz consigo, como Homero ou Camões, escondidos num colete fabricado para o efeito, os manuscritos de Ate Amanha Camaradas (na altura, ainda intitulado A Mulher do Lenço Preto na fuga acabou por se perder uma das partes, que o autor mais tarde reconstituiu). Tambem nesta fase se abre uma porta na vida familiar. Escondido numa casa clandestina, no Penedo, Sintra, Alvaro Cunhal, entao com 47 anos, conhece Isaura Moreira, com 18, que seria a mae da sua única filha, Ana (nascida a 25 de dezembro do mesmo ano). Em março de 1961, Cunhal e eleito secretario-geral do partido e parte, em seguida, para o exilio. A familia instala-se na capital sovietica, ate se separarem, em 1965.
Isaura e Ana viajam para Bucareste. Isaura trabalha na Radio Portugal Livre e Ana recebera frequentes visitas do pai. Ana tera dois filhos com quem o avô mantera muito afetuosas relações (apesar das distâncias: viviam entre a casa do pai, na Australia, e a da mae, na Belgica). Mais tarde, nasce um terceiro neto de Cunhal de um outro relacionamento de Ana Jonas de Ro, internacionalmente conceituado artista plastico, que viveu em Berlim e agora em Londres, e que tem ligações a Hollywood, nomeadamente atraves do blockbuster Cloud Atlas.
*6 - 1961: O Exilio
A resistencia organiza-se, agora, a partir do estrangeiro. Define-se a estrategia do PCP para o derrube do fascismo e instalaçao de um regime democratico, em Portugal.
Cunhal estabelece contactos com os principais lideres do movimento comunista internacional, aprofunda relações, pontes politicas com a restante oposiçao antissalazarista (agregando socialistas, liberais, católicos, republicanos e monarquicos) dao-se em Argel e Praga as celebres reuniões com Humberto Delgado, e com os movimentos de libertaçao das colónias.
Por outro lado, aumenta o seu comprometimento com a linha pró-sovietica. Publica o famoso documento Rumo à Vitória, no qual, em oito pontos, estabelece as prioridades para um Portugal democratico: "Destruir o fascismo; liquidar o poder dos monopólios; realizar a reforma agraria; elevar o nivel de vida dos trabalhadores; democratizar a instruçao e cultura; libertar Portugal do imperialismo; direito à imediata independencia das colónias; seguir uma politica de paz e amizade com todos os povos."
*7 - 1974: O 'Dia Inicial'
O dia 25 de abril apanha-o em Paris. A disciplina impõe-se à emoçao e nao o faz desmarcar uma reuniao. O último Avante! clandestino, de abril de 1974 alias, com um grafismo notavel tem tres parangonas inesqueciveis: "Escalada da Tortura"; "Nao Dar Treguas ao Fascismo"; "Aliar à Luta Antifascista os Patriotas das Forças Armadas". Nesse mesmo dia, a comissao executiva do PCP apela ao povo para "que se una e lute para que o fascismo seja liquidado para sempre e instauradas as liberdades democraticas! Para que cesse imediatamente a guerra colonial e acabe o colonialismo! Para que Portugal se liberte do dominio dos monopólios e do imperialismo estrangeiro!". Alvaro Cunhal tem direito a uma receçao calorosa, a 30 de abril, no aeroporto de Lisboa: as suas primeiras palavras, aos microfones das radios e televisao, sao: "Confiança, confiança." Ao fim de 40 anos de luta, prisões, privações, clandestinidade e exilio, Eugenia Cunhal deixa-se ficar atras da multidao: o último abraço pertence-lhe. Soares tambem la esteve: "Cunhal entre um soldado e um marinheiro, em cima de um tanque lembrava Lenine, no seu regresso." Da Portela segue diretamente para uma reuniao com Spinola, ovacionado nas ruas. O general do monóculo, Presidente da Junta de Salvaçao Nacional, disse-lhe que o Avante! deveria sair sem a foice e o martelo e sem se intitular órgao central do PCP. Ao que Cunhal responde: "Nao sei como e que vao fazer isso, nem a PIDE conseguiu." A cena do soldado e do marinheiro repetirse-a num 1.º de Maio estrondoso de aclamaçao popular, no entao estadio da FNAT, em Alvalade, quando Soares e Cunhal se voltam a encontrar, ja com alguma frieza. Nas decadas que se seguiram, ate hoje, e reconhecida ao PCP a preocupaçao com o estrito cumprimento da lei e respeito institucional. Tera sido uma herança deAlvaro Cunhal, que nunca tentou chegar ao poder pela via nao legal, como se chegou a insinuar. Dizem que a irredutibilidade dele liquidou o partido e a sua força eleitoral: ha quem defenda exatamente o contrario. No entanto, nunca perdoaria as dissidencias.
*8 - 1992: Passagem de testemunho
Alvaro Cunhal quis correr, ele mesmo, a cortina do seu próprio espetaculo, embora nunca se tenha retirado verdadeiramente da politica. Com 79 anos, 31 de secretario-geral, rende a guarda. Sucede-lhe Carlos Carvalhas, no XIV Congresso, em Almada. Para o acolher e criado um cargo especial: o de presidente do Conselho Nacional. O último discurso, enquanto lider, dura duas horas e, no final, e aplaudido durante mais de tres minutos. Ha lagrimas na assistencia. "Passei uma dúzia de anos na prisao, 11 seguidos e oito completamente isolado numa cela, isto e muito duro mas houve companheiros meus que estiveram mais de 20 anos presos. Fui torturado quase ate à morte, mas o certo e que houve alguns mortos na tortura, porque se recusaram a fazer declarações. Estive mais de 10 anos clandestino, mas houve camaradas meus que estiveram mais de 20, mais de 30, a ser perseguidos pela policia, sem nunca desistir da luta pela liberdade em Portugal."
*9 - 1994: Autoria
Se dúvidas restassem ficou eliminado o tabu literario. Cunhal assume a autoria de todas as obras assinadas com o pseudónimo Manuel Tiago. Logo em dezembro de 1975, foi editado Ate Amanha, Camaradas, com uma nota inicial em que se esclarecia que o original datilografado fora encontrado no meio de um arquivo, com uma pequena folha apensa e agrafada, onde se lia, "em rabisco apressado, o nome de Manuel Tiago, pseudónimo, de certeza. Foram consultadas pessoas que poderiam dar, eventualmente, indicações, conduzindo à identificaçao.
Sem resultado.
O autor fica assim merecendo o titulo de 'homem sem nome', tal como as personagens do seu livro". Esta foi a mais ambigua e discutida das suas ficções. Sendo um romance neorrealista, transgride-lhe as regras: nao se limita ao retrato e à denuncia das condições de vida do proletariado e camponeses.
Pelo contrario, o foco desvia-se para o duro quotidiano dos militantes comunistas na clandestinidade, as fugas, as prisões, a morte, as provações e privações. Mesmo assim, Cunhal continuou sempre a negar que aquelas circunstâncias narradas se baseassem em experiencias pessoais baseavam-se sim, dizia, nas vivencias compósitas de inúmeros camaradas.
Manuel Gusmao afirma estarmos "perante um dos poucos romances de herói coletivo da literatura portuguesa". Urbano Tavares Rodrigues nao hesitou em coloca-lo na prateleira das obras maiores do neorrealismo.
*10 - 2005: A Morte
A morte de Alvaro Cunhal, ja bastante debilitado, e de visao muito diminuida, embora ainda lúcido, e anunciada pelo Comite Central do PCP com "profunda magoa e emoçao", às 5 horas e 54 minutos do dia 13 de junho de 2005. Dois dias depois, realiza-se um funeral de Estado. Decretou-se o luto nacional, e milhares de pessoas, em cortejo fúnebre, percorreram, durante mais de duas horas, a avenida desde a Praça do Chile ate ao Alto de Sao Joao. Agitavam-se cravos, muitas bandeiras vermelhas e palavras de ordem, jorravam muitas lagrimas e a consternaçao era visivel. Foi a sua última grande manifestaçao de massas. Antes de a urna entrar no forno crematório, entoaram-se a Internacional e o Hino Nacional.